A Bela e o Monstro (1991)

A Bela e o Monstro
Ficha do Filme

Título original: "Beauty and the Beast"
De: Gary Trousdale e Kirk Wise
Argumento:
Linda Woolverton, Roger Allers e Kelly Asbury
Com:
Paige O'Hara (Voz), Robby Benson (Voz), Richard White (Voz), Jerry Orbach (Voz)
Género:
Animação, Fantasia, Musical, Romance
Classificão:
M/6

EUA, 1991, cores, versão original: 84 min, edição especial: 90 min, Disney Digital 3-D: 100 min.

Fonte:
IMDb

Crítica

O que dizer sobre uma história que é “tão antiga como o tempo” e cuja essência é tão antiga como amor?

Sinopse

Na verdade, a história de uma bela donzela que se apaixona por um monstro horrendo e consegue amansar o seu coração é uma história com raízes profundas e variadas, que ao longo dos séculos tem vindo a atravessar culturas e a apaixonar gerações. Mas é provavelmente sob a forma do encantador 30º Clássico da Disney que ela conquista um lugar cativo nas memórias e nos corações de todos os que tiveram o prazer de assistir a esta obra prima da animação. Por isso, e já que aqui temos oportunidade de falar de animação, nada mais justo do que prestar tributo a este filme, ainda que sendo difícil fazer-lhe justiça.
Análise

Esta é uma crítica totalmente parcial? Não vos mentir. É. No entanto, espero, ou antes, acredito profundamente que o entusiasmo e o carinho com que não posso evitar falar deste filme seja partilhado por muitos dos que vão lê-la. Afinal, o que tem este filme de tão especial? Vejamos... teríamos de começar pelo início... Oh sim, nem mais nem menos do que o prólogo! Estarei a brincar? Nem por sombras!

O filme começa e uma bela música, suave, misteriosa e cativante, convida-nos a entrar num mundo mágico e, então, diante dos nossos olhos, num lugar distante, numa floresta encantada, num lindo castelo (enquanto a voz do narrador nos vai contando a história de um príncipe desventurado cujo orgulho e egoísmo o fizeram cair numa maldição que o transformaria num monstro) sabemos que estamos num verdadeiro contos de fadas!

"E isso importa", perguntam vocês? Não estarei eu apenas a ser cliché? E eu serei obrigada a responder-vos que, quando temos 3 anos, provavelmente nada será mais fantástico! E quando temos 20 continuará a importar? E aí terei de voltar a responder, afirmando, com toda a certeza, que qualquer um que tenha sido cativado pela magia desde prólogo quando tinha 3 anos, será vítima de uma maldição que durará toda a vida e voltará a sentir a magia de entrar neste reino de encantar cada vez que voltar a rever este filme (confiem em mim, eu fi-lo muitas vezes!).

Passámos o prólogo, entrámos no reino mágico e ficámos encantados, conhecemos um belo príncipe mimado e egoísta que foi transformado em monstro e tivemos até pena do seu desespero, que só com o amor verdadeiro poderia ser quebrado... “Mas quem seria capaz de amar um monstro?” E se o prólogo não convenceu os mais cépticos de que, apesar de parcial, esta minha crítica não deve nada à verdade, vamos passar a argumentos mais concretos, como sejam os personagens. Et voilá! Eis que do castelo misterioso e encantado somos levados para um lugar muito diferente, uma pequena aldeia onde ficamos a conhecer a nossa heroína, Bela, tão bela como seria de esperar. Mas, contrariamente a todas as expectativas, não é a pela sua beleza que somos cativados, mas antes pela sua personalidade. Bela é independente, determinada, bondosa, inteligente e sonhadora. Mas estas características fazem com que ela pareça excêntrica (e até “estranha”) aos olhos das pessoas da sua aldeia, pois os seus ideais vão muito para além da simples vida do interior. Ela é uma leitora ávida que sonha com “lugares distantes, duelos de espadas, feitiços e príncipes disfarçados”, mas, no fundo, o que ela mais deseja é alguém que a possa entender... Não o desejam todos aqueles que ousam ser “diferentes” e sonhar o impossível?

Temos então esta heroina cativante, destinada a descobrir um coração capaz de amar escondido por uma aparência monstruosa. Mas quem é, na verdade, este ser por detrás da Fera?


Inicialmente, um príncipe arrogante e mimado, incapaz de qualquer sentimento terno. Depois, um monstro rendido ao desespero e envergonhado pela sua aparência. Mas quando finalmente conhece Bela, o Monstro começa gradualmente a mudar e podemos ver um lado completamente diferente da sua natureza: meigo, gentil, generoso, sincero e até ingénuo... Um personagem por quem, quase inconscientemente, acabamos por nos afeiçoar.

Na verdade, o nosso herói personifica a máxima “a verdadeira beleza está no interior das pessoas”, e basta conhecê-lo melhor para a sua aparência deixar de ser objecto de medo ou repulsa e passar a ser-nos querida e familiar (prova disto, e também um dos factos mais curiosos do filme, é que depois do feitiço ser quebrado e o monstro ser transformado num dos mais belos príncipes Disney, as pessoas continuam preferir a  sua “versão Monstro”). Mas mais do que um símbolo da beleza interior, o Monstro acaba por representar a própria natureza humana, imperfeita e com conflitos interiores, mas também capaz de mudar e de amar e, sobretudo, de mudar por amor. Características estas que fazem dele um dos heróis mais humanos, mais credíveis e mais adoráveis de sempre!

Uma grande história pede também um grande vilão e Gaston é, sem dúvida, um vilão muito especial e, acima de tudo, uma vilão complexo. Por oposição ao Monstro, Gaston é belo no exterior, mas feio no interior. Ele é presunçoso, arrogante, narcisista e um pouco tolo. Está determinado em casar com Bela, pois a seu ver é a única rapariga da aldeia cuja beleza está à sua altura, mas o seu carácter egocêntrico e machista impede-o de perceber que a verdadeira Bela, independente e sonhadora, jamais aceitaria encarnar o papel de “esposinha submissa”. De facto, Gaston parece-nos ao início mais um personagem cómico do que propriamente um vilão (é “quase” possível simpatizar com ele). No entanto, o seu orgulho ferido pela recusa de Bela transforma-se gradualmente numa obsessão e o lado mais perverso de Gaston vem ao de cima. De tolo emproado passa a vilão cruel, que não olha a meios para atingir os fins e que não hesitará em destruir qualquer um que se atravesse nos seus planos. A juntar a isto tem uma das melhores canções de vilão de todos os tempos! É caso para dizer: “não há igual ao Gaston”!

O desenvolvimento dos personagens é, sem dúvida, um dos pontos fortes de “A Bela e o Monstro”. Daí que, para além dos personagens principais, teríamos muito a dizer sobre a longa lista de personagens memoráveis que compõem o elenco deste filme. Mas, sob pena de já me estar a alongar demasiado, gostaria apenas de referir alguns dos nomes dão cor a este clássico, como sejam: o candelabro mais extrovertido, festivo e amado de todos, Lumiére (o maître do castelo da Fera); o severo, pomposo e não menos querido relógio de pêndulo Horloge (o mordomo); a maternal bule/ governanta Madame Samovar e o seu adorável Zip.

Só há uma coisa que pode tornar uma história mágica ainda mais mágica: a música.

Fruto da mestria de Alan Menken e Howard Ashman, ela é uma parte fundamental do mundo encantado de “A Bela e o Monstro”. Ela pode ser misteriosa e suave, espontânea, engraçada e cheia de vida, romântica, mágica ou comovente, envolvendo-nos consoante os sentimentos presentes em cada cena e fazendo-nos acreditar e viver cada momento desta história.

Uma introdução cativante para uma história bem desenvolvida, personagens memoráveis, uma excelente qualidade de animação e uma banda sonora inesquecível são alguns dos elementos que fazem deste filme um dos maiores clássicos da animação. Mas eu arriscaria dizer que o seu verdadeiro segredo está na mensagem intemporal: o verdadeiro amor é capaz de mudar tudo (mesmo algo tão improvável como o coração de uma Fera).
Veredicto final

Como sabem o combinado entre nós era atribuir um “pudim delicioso” ou um “queijo malcheiroso” consoante a avaliação fosse positiva ou negativa.

Bem, acho que conseguem adivinhar qual das duas hipóteses seria, certo?

Mas, eu gosto de surpresas! E por isso, só desta vez, vou “contornar” um bocadinho o nosso pacto porque, afinal, estamos perante aquela que foi muitas vezes designada da “mais bela história de amor alguma vez contada”.
Pudim Delicioso