Mass Effect 2: RPGs & Nostalgia (Parte 1)

Colocado por Wizard Weatherwax em 14 de Maio, 2011
Salarian Game Salesman
"I wish they still made role-playing games like they used to. These days it's all «big choices» and «visceral combat». I miss those old games where you had to remember to drink water and it took five hours to fly somewhere." –  Salarian Game Salesman na Cidadela

Citadel Mass Effect 2
Estava eu a explorar os cantinhos da grandiosa Cidadela, no fundo o centro político e económico do universo de Mass Effect, quando me deparei com um vendedor de videojogos alienígena. A situação pareceu-me de facto tão insólita que resolvi tirar uns momentos da minha missão crucial para salvar a galáxia para falar com o vendedor.

Que tipo de videojogos as pessoas (e aliens) do
Mass Effect gostam de jogar? Estava de facto ansioso por estabelecer uma troca de palavras com o simpático vendedor quando me deparo com um dos vários e hilariantes comentários dele... observação essa que me deu muito em que pensar. Pelos vistos, o vendedor estava a queixar-se a alguns dos seus clientes de que os RPGs modernos são cada vez mais simplificados, evitando sistemas mais complexos de gestão dos personagens e de exploração dos mundos virtuais.

O meu sensor aranha tocou imediatamente. Estaria a BioWare a mandar uma farpa aos jogadores mais conservadores e nostálgicos? Estaria a companhia de videojogos a gozar com uma parte dos seus clientes?

Estaria a BioWare a mandar uma farpa aos jogadores mais conservadores e nostálgicos?
Fiquei boquiaberto por uns instantes, levantei-me da cadeira e fui fazer um café na cozinha. Após ter preparado a bebida regressei ao computador e continuei a ouvir os diversos comentários que o vendedor de videojogos fazia. E todos os comentários eram de facto referências a tendências
actuais no mundo dos videojogos. “Brilhante sátira!”, pensei eu para com os meus botões, enquanto bebia a minha dose diária de cafeína. Cinco pontos positivos na minha consideração, BioWare.

Mas alto lá! Estaria eu a ser gozado com aquele comentário sarcástico acerca da suposta simplificação dos RPGs? Afinal de contas, de que lado estou eu? Do lado da suposta “simplificação” progressista ou do lado “nostálgico” conservador?

Pois bem, a resposta a essa pergunta é de facto mais complicada do que parece à primeira vista. Foi através dos RPGs antigos - os tais mais complicados e com sistemas de jogabilidade mais complexos - que vivi das melhores experiências lúdicas da minha vida, enquanto jogador. Aliás, tenho grandes memórias no que toca à exploração desses cenários virtuais, como também
do tempo passado a gerir os meus personagens em termos dos seus atributos e habilidades. E sou o primeiro a admitir que hoje em dia, os RPGs seguem de facto uma tendência para se tornarem mais simples e directos em termos de jogabilidade, o que pode enervar os jogadores mais saudosistas.
Shepard contra os Husks
Mas o que entendo eu por “simplificação” dos RPGs? Eu entendo por “simplificação” como sendo um corte significativo na micro gestão dos personagens jogáveis e na capacidade de exploração dos cenários virtuais.

Antigamente os jogadores tinham que gerir de maneira pormenorizada todos os personagens jogáveis e dedicar várias horas à exploração das diversas áreas. Jogos como o Betrayl at Krondor, Betrayal in Antara ou a série Ultima obrigavam o jogador a explorar um mundo virtual vasto, cheio de missões e de personagens com o qual podíamos interagir, assim como gerir cuidadosamente os personagens jogáveis – gestão essa que podia chegar a ser bastante cansativa e repetitiva, principalmente quando o jogador tinha que controlar um grupo grande.

Apesar de nem todas as companhias de jogos estarem a seguir a tendência de simplificação dos RPGs (por exemplo, a Bethesda Softworks continua a fazer videojogos com uma grande longevidade e com um sistema de gestão dos personagens algo complexo), a BioWare está a apostar de facto nessa tendência. Com excepção do
Dragon Age: Origins, que demora cerca de 70 horas a ser jogado, os jogos mais recentes desta companhia de videojogos demoram cerca de 40 horas a serem completados, existindo uma redução da micro gestão dos personagens jogáveis e um maior recurso a momentos de acção de maneira a manter o jogador mais entretido.

Mass Effect 2
O Mass Effect 2 é portanto um RPG simplificado, pelo menos em comparação com os RPGs antigos. No entanto, este videojogo conseguiu cativar tanto jogadores como críticos que elogiaram a história, a jogabilidade e os personagens.

Atenção! Naturalmente que nem todos os jogadores gostam do Mass Effect 2 – ou por causa da jogabilidade, ou por causa da história ou por outro qualquer motivo -, mas o sucesso comercial e crítico do jogo reforçam a crença de muitos jogadores de que este foi um marco na história dos videojogos.

Mas sendo o
Mass Effect 2 um RPG simplificado pode-se de facto compará-lo a RPGs mais
complexos?

Enfim... Acho que este tema requer mais tempo de meditação... Continua no próximo artigo,
amigos cibernautas!